domingo, 22 de agosto de 2010

De repente eu já não era mais criança...

Você se lembra de um tempo em que não precisávamos fazer escolhas? Você se lembra de uma era em que a maior cobrança que existia eram desenhos de palitos?? Será que ainda conhecemos a inocência, ou terá ela se perdido em algum lugar...??? Você se orgulha das escolhas que fez???? Você tem dúvidas??? Não dá medo viver em um jogo de aparências?? Desde quando sou dono da minha própria vida? São todas perguntas das quais não consigo me livrar...

Minhas primeiras memórias não são minhas... São memórias que surgiram a partir de histórias, fotos e outros pequenos detalhes que enquanto criança marcaram a vida de alguém. Um brinquedo quebrado, o primeiro rabisco. Dizem que foram anos de ouro... devem ter sido. Pena que não foram absolutamente meus. Pelo menos, não do tipo que eu vá me lembrar de qualquer jeito. Pisquei uma vez...

Já tinha alguns anos de idade quando comecei a freqüentar a escola. Era uma época divertida. Parquinho, desenho livre, desenhos animados. Quem aí não se lembra dos cavaleiros do zodíaco, dragonball, pokemon? Bate um breve saudosismo.... Lembranças de uma infância rica. O primeiro tombo do cavalo, a primeira cicatriz, os campeonatos de futebol do clube. Não quer dizer que você precise ser bom, só precisa ter um pai animado e fanático... Pisquei pela segunda vez...

A primeira viagem... A primeira vez que você precisa deixar a casa de seus pais sem nenhum tipo de mimo, sem nenhum tipo de birra. Você aprende que sua influência sobre os que te amam incondicionalmente é muito maior do que sobre seus tios, primos, avós... É melhor pensar em maneiras menos usuais de convencê-los. Um bom exercício... além de ser também sua primeira experiencia de liberdade. Ninguém se preocupa tanto com a sua vida... é claro que todos querem seu bem. Mas as vezes, precisamos dar cabeçadas na parede pra lembrar se ainda dói, ou se era só imaginação... Pisquei pela terceira vez...

A primeira namorada ou melhor a primeira decepção amorosa. Quem aí não teve aquela paixãozinha de sexta série. As idas ao cinema. Os encontros no clube. Ir ao Mc. Era tudo tão mais fácil... ou talvez não mais fácil, mais simples. Sem complicações, sem falsidades, apenas a inocência do gostar. Era mais fácil se aproximar, acreditar, gostar... É nessa época que se criam as paredes de gelo, os corações de pedra... Pisquei pela quarta vez...

A primeira viagem com a turma. Vá conhecer pessoas novas, vá se aventurar com seus amigos. Beber era uma novidade.. não era? Hoje é só um hábito... Quantos anos nós tínhamos mesmo? 15? Mal sabíamos o que era passar uma noite em claro. No entanto, em 3-4 dias já éramos quase especialistas... você conhece pessoas que pensa que nunca mais vai esquecer, e o nunca mais acaba servindo só para o nunca mais vou ver.. Pisquei pela quinta vez...

O primeiro verdadeiro desafio: o vestibular. A primeira real conquista. Mudar de casa, mudar de vida. Pegar as rédeas da sua vida e levá-la para um lugar que você acredite ser o melhor. Saiba que na maior parte das vezes não é. Você erra com as pessoas. Você é mal interpretado, você é julgado. Você precisa pagar contas, você tem maiores responsabilidades, você é dono da sua própria vida. Cadê minha infância, cadê meus anos dourados? Mal me lembro dessa época... vou simplesmente sufocando em meio a livros, festas, responsabilidades, falta de tempo ou inabilidade de geri-lo. Pisquei algumas vezes, e a vida foi passando. A vida está passando. E de repente, deixar algo para amanhã pode ser tarde demais. De repente eu tinha responsabilidades demais... De repente eu estava perdido sem saber para onde ir... De repente, eu já não era mais criança...

7 comentários:

  1. muuuuuuuuuuuito bom o texto.

    ResponderExcluir
  2. Adorei Lê! Estão cada vez melhores!
    Dé.

    ResponderExcluir
  3. Muito legal o texto, Lê;


    Eu realmente nunca tinha parado pra pensar que minhas memórias de criança quase não são minhas. Faz bastante sentido na verdade; lembrar de quando era pequeno, e duvido muito que tínhamos a consciência de tempo pra isso, é nada mais que viver a nostalgia de outros.
    Depois, já com um certo senso de tempo, nos vemos crescendo com amigos, hábitos, amores, ideais, lazer e aquele nada de responsabilidade fora de "arrume seu quarto" "escove os dentes".
    Passou muito rápido.

    Essa inocência de anos de ouro é muito frágil mesmo. Deixamos de ver as coisas com o brilho de antes, como o interesse de antes, com a diversão de antes; o que se passa? Sinceramente não sei.
    Ficamos tão exigentes de nós mesmos, dos outros, sobre tudo que deveria estar no eixo.

    Mas quer saber a graça disso tudo? Piora!
    HAHHAHAHAHHAHA
    Daqui a 10 anos estaremos falando de quão fáceis as coisas eram com 20 anos, quão lindo, quão intenso.
    Assim continuamos a viver.
    Temos que entender a sorte que temos por vivermos bem, sem doenças, desgraças...A vida continua eu e você, do mesmo modo que todos, estamos apenas de passagem.

    ResponderExcluir
  4. O filme "A Ilha"é um bom exercício para discussão de "inprint memories".

    Embora inprint memories sejam uma realidade que ofusca nossa percepção do real, a experiência (bem como julgamentos) são individuais. Vivemos em um mundo de dejàvú e isso é o suficiente para alimentarmos uma impressão de coletividade. Ainda assim, basta lembrar de grandes nomes da literatura, da arte, música, política e então perceber que há sim uma individualidade, uma liberdade de produzir e de experimentar a vida sabendo que, mesmo com 11 anos, você é independente com interdependencia (isso se dá por causa de nossa estrutura social que limita o alcance do braço quando se quer mais mas não se pode obter).
    Ainda acredito que nossa liberdade é proporcional ao nosso poder cognitivo: quanto mais cônscio de sua própria vida você é, mais liberdade (ou amarras) você obtém.

    Cogito, ergo sum.

    Roosevelt

    ResponderExcluir
  5. Gostei do texto. Lembrar do passado acaba virando uma forma de nostalgia e um meio de escapar por alguns minutos das responsabilidades e problemas do dia a dia.
    Mas se tornar responsável é necessário, as vezes nem por escolha própria, mas sim como uma imposição da sociedade em que vivemos.

    ResponderExcluir
  6. Adorei, até mesmo aquele aperto de saudade que senti ao lembrar da minha infancia, eu realmente adorei! Bom, mas vc irá piscar muiiiitoo ainda! rss.. =) Parabéns Le! incrivel, essa é a palavra ^^ Beijos!!
    Talita

    ResponderExcluir
  7. ... *suspiro de lembranças* ...
    Alguém um dia disse que crescer dói. Eu concordei com essa pessoa já muitas vezes e vou concordar muitas outras. Mas eu um dia descobri também que é só doendo que a gnt aprende. E que são as cicatrizes, no fim, que realmente contam a nossa história...

    =)

    ResponderExcluir